segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Noite de Natal

O vento, em rajadas violentas e geladas, afastava tudo e todos da rua deserta. Não se via nem cão nem gato cá fora. Apenas o zumbir do vento na sua passagem pelas folhas das árvores ou uma porta ou outra a ranger ou a bater, de algum barraco desengonçado e velho.

No entanto, o ambiente dentro das casas era bem diferente: crianças brincavam, corriam, pregavam partidas, em salas bem iluminadas e quentes, indiferentes ao vento e ao frio do exterior. Era véspera de Natal!

Numa velha casa, nos limites da cidade, por entre os rugidos do vento, uma criança de nove anos, encostada a um canto, soluçava. Estava gelado e sentia-se desfalecer. Agarrava-se como podia a um casaco velho mas o casaco, de tão velho, quase que era mais frio que o próprio frio... Por entre os soluços, gemia com uma voz trémula, de desespero:

Rui -Mãe!..... Mãe!..... Eu quero a minha mãe!... Tenho tanto frio!... Mãe, ajuda-me!... Aquece-me, mãe!.... Estou cheio de frio!... Mãe, porque é que tu nunca mais vens?... Anda, que eu prometo que me porto sempre bem!... Vou fazer sempre tudo o que tu me mandares, vou...

(E os soluços abafam-lhe a voz)

Num desespero terrível, esta criança não compreendia o que se passava, não compreendia que mal podferia ter feito para merecer tamanho castigo.. Já tinha passado cerca de uma semana que vivia sózinho. Antes, vivia com a sua mãe. Não fosse a fome e ainda viveria com ela. Mas a necessidade levou-a a cometer um erro: encontrou uma loja com a porta aberta a meio da noite e entrou. Viu umas caixas com fruta e encheu rapidamente uma saca. Ia a sair e foi apanhada. Chamaram a polícia. Encontraram dentro da loja o dono com uma grande pancada na cabeça, desmaiado. Ela bem se defendeu dizendo que apenas tinha tirado a fruta e que não tinha feito mais nada, que pegou na fruta porque tinha de dar de comer ao seu filho, que o seu filho estava cheio de fome... Bem disse que nem sabia que o dono estava lá dentro desmaiado... Mas, ninguém acreditou nela. Não era daquela terra e, por isso, não era de confiar. Foi levada para a prisão e ali ficou a aguardar julgamento. As provas eram todas contra ela...

(Batem à porta)

Rui - Ui!... Quem é que está a bater à porta? Será a minha mãe? Não, não pode ser... Devo estar a sonhar... Ninguém bateu à porta! A minha mãe está presa e ninguém anda na rua com este frio... (e aconchega-se de novo ao casaco, tentando tapar o frio)

(Batem à porta novamente)

Rui - Bateram mesmo à porta... Será a polícia? Vão-me levar preso? Vão-me levar para um lar? Não, não quero ir! Tenho de me esconder. (esconde-se atrás de uns armários).

(Batem à porta novamente, mas com mais força)

Uma voz - Rui, Rui, abre a porta!

O Rui, tiritando de frio e de medo, ouviu a voz e pareceu-lhe ser uma voz que já tinha ouvido... Mas não se lembrava de quem era...
Voz - Rui, eu sei que estás aí! Abre a porta! Anda lá que aqui fora está muito frio! Depressa!
Desta vez o Rui reconheceu a voz. Era o seu amigo Pedro. Tinha estado na casa dele no dia anterior e até tinha lá jantado. De um salto, correu para a porta. Tirou a tranca e abriu-a.
Pedro - Irra, Rui, que frio! Até pensei que me ias deixar morrer lá fora, gelado!
Rui - Tive medo... Não sabia que eras tu... Mas, o que é que tu estás aqui a fazer?
Pedro - Estava cansado de estar lá em casa sem fazer nada e resolvi ir dar uma volta. Lembrei-me de ti e vim aqui ter...
Rui - Com este frio?! Tu estás maluco ou quê?! Devias estar a fazer a ceia de Natal com a tua família. Estavas muito mais quentinho...
Pedro - Eu não sou friorento. E as minhas primas já me estavam a chatear: era cá um berreiro que eu já não aguentava mais...
Rui - Mas hoje...
Pedro - Hoje não é um bom dia para se visitarem os amigos?!... E, depois, havia lá comida a mais... Trouxe um bolo-rei para comermos juntos.
(batem novamente à porta)
Rui - Outra vez?! Quem será agora? Se calhar agora é mesmo a polícia para me levar...
Pedro - Polícia?!... A esta hora e na véspera de Natal?! Nem penses! Vai abrir a porta e já vês quem é.
Rui - Vou já, vou já!
(o Rui abre a porta)
Cátia - Olá, Rui! Estava a ver que nunca mais abrias a porta!

Rui - Cátia! E o Zé! Não percebo nada...

Zé - Rui, sai lá da frente e deixa-nos entrar! Olá Pedro! Também estás aqui?

Pedro - lá Cátia e Zé! Eu é que não contava convosco aqui...

Cátia - Olá Pedro! Rui, trago aqui um bacalhauzinho com batatas e tronchuda. Espero que ainda não tenhas jantado...

Rui - Jantado?!...

Zé - Ainda bem que ainda não jantaste! Assim, podemos comer todos juntos!

(batem novamente à porta)

Rui - Bateram à porta?

Pedro - Eu também ouvi...

Rui - Isto é muito estranho... Quem é?

Magda - É a Magda , o Fernando e a Rafaela.

(O Rui corre a abrir a porta)

Rafaela - Olá. Rui, parece que estás com frio...

Rui - É só um bocadinho... A casa está fria...

Fernando - Eu bem tinha razão! Ele oprecisava de um aquecedor! Magda, para outra vez, está calada, para não dizeres asneiras...

(Colocam o aquecedor a funcionar)

Rui - Agora já está mais quentinho... Que bom!

Magda - Agora, chega-te aqui à minha beira. Quero ver uma coisa... (O Rui vira-se e ela enfia-lhe um casaco de lã)

Rafaela - Fica-lhe mesmo bem! É à medida dele!

Magda - Gostas do casaco? Fui eu que o fiz!

Rui - É para mim? Não percebo...

Zé - Estás mesmo um "man", "meu"!

Pedro - Magda, vê lá se fazes outro para mim!

Rafela - Tu o que queres é conversa... Mas a Magda não quer nada contigo...

(Batem novamente à porta)

Fernando - Ainda vem mais alguém? Não tínhamos combinado nada...

Pedro - Não olhes para mim que eu não sei de nada!

Rafaela - Bem, então, já não percebo nada...

(batem novamente à porta)

Voz - Abram a porta! Polícia!

Rui - E agora? Não nos podemos esconder todos...

Pedro - Nós não sabemos o que eles querem...

Magda - Não pode ser nada de mal pois não fizemos mal a niguém...

Fernando - A polícia não serve só para prender pessoas. Vamos abrir a porta.

(Batem novamente)

Rui - Já vai, já vai!

(Rui abre a porta)

Polícia - Quem de vocês é o Rui?

Rui - Eu não dizia... É desta que vou preso...

Polícia - Então, és tu o Rui? Tenho de falar contigo.

Rafaela - Sr. polícia, não vê que o está a assustar. Páre lá com isso e vá-se embora!

Zé - O Rui não fez nada de mal!

Polícia - Eu sei... eu sei... Não é isso, eu não venho para lhe fazer mal!

Cátia - Então o que é que está aqui a fazer?

Polícia - É sobre a tua mãe, Rui.

Rui - O que é que se passa com a minha mãe? Já não chega prenderem-na e ela não ter feito nada?!...

Pedro - Rui, deixa falar o Sr. polícia.

Polícia - Bem, descobrimos que cometemos um erro terrível... Lembras-te do Sr. da loja que foi assaltada?

Rui - Foi por causa dele que a minha mãe foi presa...

Polícia - Pois é, prendemos a tua mae porque pensávamos que tinha sido ela quem tinha assaltado a loja.

Rui - Pois, e levaram-na presa...

Polícia - Pois foi... O Sr. da loja, o Sr. Luís, estava no hospital entre a vida e a morte. Mas, há um bocado, acordou.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Teatro - O Menino Pobre - Gonçalo Pinto

Narrador - Era uma vez um menino muito pobre, cujos pais tinham sido presos. Foi assim. Eles viram uma macieira e foram lá buscar maçãs. Entretanto, o agricultor chamou a policia. Os pais dele foram presos e ele ficou sozinho.


Menino - Eu estou sozinho. O que é que vou fazer? Não tenho comida, tenho fome, não tenho dinheiro,… A minha mãe e o meu pai foram presos. Não tenho nada, nem ninguém.


Narrador – Passadas algumas semanas, o menino estava tão magro que até se lhe notavam os ossos. Dava tristeza e metia pena. Era horrível!!!


Menino - Ai, ai,… Tanta sede que eu tenho. Quem me dera ter os meus pais… Quem me ajuda? Quem me pode ajudar?


Narrador – De repente, ouviu-se um barulho. Era um grupo de turistas que se aproximava dele.


Turista – Que se passa , menino? Em que é que te podemos ajudar?



Narrador – Os turistas, espantados, observavam o pequeno e pobre rapaz.



Menino – Estou cheio de fome e de sede. Não tenho nada. Podem ajudar-me?



Outro turista –
Claro que sim! Não é, amigos? Vem connosco, nós vamos cuidar de ti.


Narrador – Eles levaram-no para a casa que tinham alugado e trataram-no muito bem.



Gonçalo Pinto